Se o futuro é agora, por que não estamos nos concentrando nos problemas climáticos como deveríamos?
Na manhã desta segunda-feira (20), houve a divulgação da última parte do relatório de avaliação chamado “Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade”, realizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial, o IPCC tem como objetivo sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticas.
O documento confirma as fortes interações entre os ambientes natural e social, bem como os sistemas climáticos, além de ratificar o fato de que a mudança climática induzida pelo homem causou impactos adversos generalizados para a natureza e as pessoas. O IPCC não conduz pesquisa original, mas reúne, avalia e interpreta o conhecimento produzido por cientistas de alto nível ― tanto os independentes quanto aqueles ligados a organizações e governos ― e traduz em relatórios abrangentes, de fácil compreensão e acessíveis para todos.
Uma bomba-relógio
A mudança climática é um desafio de longo prazo, mas a necessidade de ação, agora, é clara. A conclusão do relatório resume isso de forma sucinta: “As evidências científicas são inequívocas ― a mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária. Qualquer novo atraso em relação à adaptação e à mitigação do assunto fechará a janela de oportunidade que ainda pode garantir uma vida habitável e sustentável para o futuro de todos.”
A saída para isso é que as nações industrializadas reduzam pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030, e se tornem neutras em carbono até o início da década de 2050. Somente assim será possível impedir que as temperaturas médias globais subam mais de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. A partir desse limite, diz o IPCC, os “pontos de inflexão” aumentam, incluindo a extinção de espécies, o derretimento irreversível da camada de gelo e o aumento maciço do nível do mar.
Era do ESG
Em tempos de práticas de ESG sendo cada vez mais discutidas, é necessário partir imediatamente para a ação, já que, mesmo cumpridas todas as promessas nacionais de cortes de emissões de curto prazo, é provável que a temperatura aumente até o fim do século.
Para o coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório, ainda não estamos em uma trajetória para manter o aquecimento global abaixo dos níveis considerados como os mais seguros. “O Brasil está exposto a vários riscos climáticos. Se não estivermos preparados, o país continuará negligenciando o risco de novas tragédias.”