Com negociações travadas com os EUA, o governo brasileiro volta-se para dentro, com foco na política de mitigação dos danos gerados pelas tarifas.
O plano deve trazer receitas repetidas e aprendidas durante a pandemia, como crédito subsidiado e programas de redução de jornada em troca da manutenção de emprego.
Outra agenda que deve ganhar força é a aplicação de tarifas a produtos importados industrializados oriundos não apenas dos EUA, mas também de outros países, como a China.
A ideia é obter proteção de uma externalidade da guerra comercial que ocorre em escala mundial: produtos que perderam mercado nos EUA, por exemplo, passam a ser “desovados” com preços mais baratos em praças secundárias.
Trata-se de um quebra cabeça que necessita uma visão sistêmica porque, sem regras gerais reconhecidas, cabe a cada país cuidar do seu próprio balanço.
Novo fator de afastamento Brasil-EUA
Em relação aos Estados Unidos, um outro elemento de pressão é a disposição daquele país de considerar o crime organizado uma ameaça à sua segurança nacional, inclusive caracterizando algumas facções como entidades terroristas e, assim, sujeitas a ações de força onde quer que estejam.
No dispositivo que definiu grupos de crime organizado como atores terroristas, a Casa Branca deixou claro que vê na infiltração política das facções nos governos um elemento de desestabilização de países parceiros dos EUA.
Ao caracterizar o presidente venezuelano como líder de um cartel de narcotraficantes, o governo de Donald Trump sugere que a combinação entre crime organizado e deterioração de instituições democráticas sua grande preocupação para países da região com implicações geopolíticas.
Para o Brasil, esse é um novo foco de pressão no sentido em que o governo Lula tem se recusado a reconhecer crime organizado como atividade terrorista. A falta de colaboração nesse ponto é outro fator de afastamento dos dois países.