O Relatório Anual do Desmatamento, divulgado pelo MapBiomas, mostrou um crescimento de 22% na área desmatada no Brasil em 2022. Isso significa que 21 árvores foram derrubadas a cada segundo somente na Região Amazônica, totalizando uma área de 20.572 km2. Os biomas mais afetados foram a Amazônia e o Cerrado, que juntos representaram cerca de 90% da área desmatada.
O relatório, publicado desde 2019, é uma iniciativa do Observatório do Clima e teve seus estudos conduzidos por um grupo de universidades, ONGs e empresas do ramo da tecnologia. A pesquisa tem seis etapas que passam pela compilação de alertas de desmatamento, validação e refinamento de imagens de satélite e cruzamento com dados públicos de órgãos como o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O estudo mostrou que áreas destinadas a comunidades remanescentes de quilombos e terras indígenas permanecem como os territórios mais preservados do Brasil. Recentemente, a demarcação de terras indígenas gerou polêmica com a aprovação do PL do Marco Temporal na Câmara dos Deputados. Ele inviabiliza novas demarcações por demandar a comprovação da ocupação do território pela etnia em período anterior à promulgação da Constituição Federal.
O projeto foi alvo de protestos por parte de representantes dos povos indígenas, como a ministra Sônia Guajajara, e de entidades que defendem causas ambientais. A proposta seguiu para análise do Senado, mas também está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), onde recebeu dois votos contra e um a favor.
Vetores do desmatamento
O Relatório Anual do Desmatamento realiza uma análise de quais são os principais vetores de pressão do desmatamento no Brasil. O estudo de 2022 mostrou que as ações por pressão da agropecuária correspondem a quase 96% de todos os focos de desmatamento validados pelo MapBiomas Alerta. Além disso, garimpo, mineração, expansão urbana e desastres naturais também aparecem como vetores, mas com números bem abaixo se forem comparados com o agronegócio.
De acordo com a pesquisa, praticamente todo o desmatamento existente no Brasil tem indícios de atividades ilegais. Apenas 0,7% da área desmatada não tiveram sinais de irregularidades.
Panorama por estados
Todos os estados e o Distrito Federal tiveram alertas de desmatamento em 2022, e 20 deles registraram um crescimento na área desmatada. Entre as unidades da federação com maior aumento estão Piauí, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Rio de Janeiro, todos eles com acréscimo de mais de 80% na área detectada.
No entanto, o estudo alerta que esses números podem refletir não só o aumento do desmatamento, mas também uma melhora nos sistemas de detecção dos estados. No caso do Espírito Santo, por exemplo, as autoridades estaduais conseguiram responder a todos os alertas de desmatamento no ano passado.
Quando analisamos o total da área desmatada, os estados da região norte são os que mais sofrem com o problema. Pará, Acre e Amazonas lideram respectivamente o número de eventos de desmatamento no ano, seguidos por Bahia, Rondônia e Mato Grosso.
Impunidade pode ter gerado aumento
Em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo, o coordenador geral do MapBiomas Tasso Azevedo comentou sobre os resultados do relatório. “O tamanho das áreas desmatadas está maior, em média, do que era nos anos anteriores, indicando um investimento maior no desmatamento. Pode ser também um indicativo de que se esperava uma impunidade maior, porque quanto maior a área, mais fácil de enxergá-la”, disse Azevedo.
Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil