É admirável a popularização do termo “compensação de carbono” na comunicação das grandes empresas, especialmente aquelas vistas como antagonistas da preservação ambiental. Mas em que ponto esse ativo deixa de ser intangível para se firmar como algo realmente concreto e de valor mensurável para a sociedade?
Se por um lado as pessoas são bombardeadas por expressões como “ESG” e “sustentabilidade”, por outro, quantas conseguem, de fato, explicar seu significado sem hesitar por alguns instantes? Ora, uma compensação de carbono nada mais é do que o próprio nome diz: a redução ou remoção das emissões de dióxido de carbono e demais gases de efeito estufa feitas em um local para compensá-las em outros. Indo um pouco mais adiante, ela é medida em toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e).
“Aula” ministrada, chega a vez das próximas dúvidas: a compensação feita hoje é suficiente? Os seus investidores têm consciência de como as empresas a vêm praticando? Afinal, já não passou da hora de o Brasil assumir seu protagonismo de vez na questão? Avante!
Em artigo recente, o The Guardian trouxe a seguinte manchete estampada: “Revelado — mais de 90% das compensações de carbono da floresta tropical pelo maior fornecedor são inúteis, mostra análise”. O extenso artigo, entre revelações e denúncias, ainda expõe que, para avaliar os famigerados créditos, uma equipe de jornalistas analisou as conclusões de três estudos científicos que usaram imagens de satélite para verificar os resultados de vários projetos de compensação florestal. O resultado? Decepcionante e assustador, uma vez que esse padrão de carbono tem, em sua maioria, “créditos fantasmas” que podem, inclusive, piorar o aquecimento global.
As marcas que utilizam essa compensação de carbono são grandes, tanto quanto as que deixam no meio ambiente. Em relatórios, ratificam aos stakeholders que seus investimentos estão sendo (bem?) direcionados para a compensação de carbono e que essa é, portanto, uma preocupação sanada — a ponto, inclusive, de rotularem seus produtos para consumidores finais como sendo “carbono neutro”.
Brasil: pulmão da Terra
E quando a questão é o papel do Brasil no centro desse debate, é seguro dizer que, hoje, a Amazônia ainda representa um dos pulmões do mundo. Além da capacidade de produção da compensação de carbono, é urgente a necessidade de medidas inteligentes capazes de dar aproveitamento ao que a própria biodiversidade oferta.
É aí que a compensação do carbono em terras brasileiras tem ganhado força: aprovado no governo Bolsonaro, o decreto 11.075 de 2022 estabelece procedimentos para a elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas e institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa – Sinare. Na prática, isso se dá por meio das “fazendas de florestas em pé”, lugares em que as árvores realmente existem, têm endereço e fotografia, e qualquer um pode conhecê-las. Sem dúvida, trata-se de um avanço constitucional para um projeto que vai revolucionar esse mercado e dar velocidade a uma resposta que o planeta espera com angústia e apreensão.
A premissa “ver para crer” nunca coube tão bem como para este caso, uma vez que os investidores do mundo estão com olhos e intenções no Brasil. Além de cooperação ambiental, essa construção resulta também em um ativo de negócios sustentáveis valioso, iminente e necessário para reverter o desequilíbrio climático e manter a existência da vida — a mesma que, paradoxalmente, só existe por causa da organicidade conferida pelo próprio carbono.