O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira (19), em Nova York, 20 anos após seu primeiro discurso como presidente na organização. Lula falou por cerca de 21 minutos, abordando temas como o combate à fome e às desigualdades, mudanças climáticas e conflitos armados.
A última participação do petista em uma Assembleia Geral da ONU ocorreu em 2009, no penúltimo ano de seu segundo mandato. Tradicionalmente, o Brasil é o país responsável por abrir as discussões, e Lula é o presidente que mais vezes discursou na ONU. Em seus mandatos anteriores, ele abordou temas semelhantes aos que foram tratados no discurso de hoje.
Confira a seguir os principais pontos do discurso.
Combate às desigualdades
O presidente iniciou a sua fala com um alerta sobre a situação da fome no mundo, afirmando que 735 milhões de pessoas vão dormir sem saber se terão o que comer no dia seguinte. Na sequência, ele falou sobre programas de seu governo, como o Bolsa Família e o Brasil sem Fome, que buscam reduzir a insegurança alimentar no país.
“O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe. A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida”, afirmou sobre a desigualdade social.
Lula também criticou outros tipos de desigualdade, como a de gênero, o racismo, a LGBTfobia e o preconceito contra pessoas com deficiência.
Questões ambientais e desenvolvimento sustentável
Lula também aproveitou a oportunidade para cobrar investimentos em medidas de proteção ao meio ambiente e combate às mudanças climáticas por parte dos países desenvolvidos. Segundo ele, o Acordo de Paris, de 2015, quando países se comprometeram a destinar US$100 bilhões aos países em desenvolvimento, ficou apenas como uma promessa.
O presidente também defendeu a adoção de um modelo econômico socialmente justo e ambientalmente sustentável. Lula citou medidas de seu governo, como o Plano de Transformação Ecológica e a Cúpula de Belém, que reuniu países com parte da floresta amazônica em seu território.
Críticas ao neoliberalismo
Em uma referência aos governos anteriores no Brasil, Lula criticou a adoção de políticas econômicas neoliberais que, segundo ele, agravam as desigualdades e enfraquecem as democracias. Ele completou afirmando que esse cenário é favorável para o surgimento de líderes de extrema-direita, que “vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas”.
“Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário“, afirmou.
Guerra da Ucrânia
Em seu discurso, Lula voltou a criticar as sanções aplicadas contra a Rússia. “As sanções unilaterais causam grandes prejuízos à população dos países afetados. Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos”, disse.
Para o petista, o conflito escancarou a incapacidade dos países integrantes da ONU em alcançar a paz e mostrou que o Conselho de Segurança da entidade vem perdendo a credibilidade pela ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas.
Críticas a órgãos internacionais
Além da ONU, Lula também criticou outras organizações internacionais ao longo de seu discurso. O presidente questionou o fato de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter disponibilizado US$160 bilhões a países europeus e apenas US$34 para países africanos. Segundo ele, esses números mostram a representação mundial distorcida e desigual.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) também foi alvo do presidente. Ele criticou a inércia da organização em relação ao protecionismo econômico dos países ricos e seus sistema de resolução de controvérsias.
A Assembleia Geral da ONU é uma reunião anual realizada desde 1946 onde todos os mais de 190 países-membros da organização dialogam a respeito da definição de políticas futuras. A edição de 2023 teve início hoje (19) e vai até o dia 25 de setembro.
Nos próximos dias, o Lula tem encontros marcados com outros chefes de Estado. Amanhã, o presidente se reúne com o líder da Ucrânia, Volodimir Zelensky, em uma das reuniões mais aguardadas. O Brasil é um dos países que assumiu a posição de neutralidade na guerra que ocorre no país do leste europeu.
Amanhã Lula também será recebido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para o lançamento de uma iniciativa global para promoção do decente.