O recente aumento do IOF, anunciado pelo governo na semana passada, gerou forte repercussão entre analistas econômicos, representantes do setor financeiro e da indústria. A medida foi classificada como uma “paulada perigosa no crédito” pelo colunista Antônio Machado, do Correio Braziliense. Em sua análise, Machado exemplifica o impacto: “uma empresa que tome R$ 100 milhões por cinco meses, com prestações constantes, juros de 20% ao ano e 0,38% de IOF no ato da contratação, sofrerá um aumento expressivo no custo efetivo. A alíquota de IOF subiu 31,5%, elevando o custo total de 26,4% para 34,7% ao ano. Em valores absolutos, a arrecadação de IOF passaria de R$ 870 mil para R$ 1,934 milhão, um crescimento de 122%.”
Em reportagem publicada na Broadcast, as jornalistas Célia Froufe e Simone Cavalcanti ressaltaram que, com a elevação, o IOF tende a se equiparar ao spread bancário médio para operações com pessoas jurídicas. Conforme dados do Banco Central de março, o juro médio em estoque de crédito estava em 20,54% ao ano, com spread de 6,86 pontos percentuais e inadimplência de 2,8%. Segundo especialistas ouvidos, “o que foi feito aqui é sério, não é brincadeira. Trata-se da maior atuação de repressão financeira em muito tempo, pelo menos nas últimas duas décadas.”
A diretora do UBS, Solange Srour, destacou em entrevista ao Estadão que a medida reforça o freio sobre a economia, mas ao mesmo tempo “traz um certo conforto para o Banco Central”, ao reduzir a pressão por novos aumentos na Selic. Já o economista Gustavo Franco, também escrevendo para o Estadão, chamou atenção para a dimensão política do pacote: “uma vez estabelecida a indisposição do governo em diminuir o tamanho do gasto, o ministro procurou oferecer ao país a política fiscal menos irresponsável possível, consideradas as circunstâncias.”
Em entrevista ao jornal O Globo, o ministro Fernando Haddad evitou defender tecnicamente o pacote e concentrou seu discurso na herança fiscal do governo anterior, nas dificuldades de articulação com o Congresso e em aspectos políticos internos, como sua boa relação com Rui Costa e Gleisi Hoffmann. Haddad reforçou que não pretende disputar cargos eletivos em 2026, reafirmando Lula como a principal alternativa do PT para a próxima eleição presidencial.
A ausência de uma defesa técnica mais robusta e o foco nos aspectos políticos foram aspectos destacados por analistas, que enxergam uma desconexão entre a medida e seus potenciais efeitos econômicos.
Diante da reação combinada dos setores financeiro e produtivo, ambos atingidos pela elevação do IOF, cresce a possibilidade de que o governo seja forçado a rever parte do pacote. A avaliação de especialistas é de que a medida, anunciada na última quinta-feira, já se configura como uma nova crise política e econômica.
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Este conteúdo integra o trabalho de análise e monitoramento de conjuntura política realizado por Casablanca e Think Policy. As opiniões expressas são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento institucional da VOTO.Curtir este comentário