Direita mostra força nas eleições primárias da Argentina

Os resultados das eleições primárias para a presidência da Argentina, realizadas no último domingo (14), surpreenderam e contrariaram boa parte das previsões. Com mais de 30% dos votos, o ultraliberal Javier Milei desbancou os candidatos do governo peronista e da oposição de centro-direita, e agora desponta como o favorito para vencer as eleições gerais que serão realizadas no dia 22 de outubro.

Na Argentina, as eleições primárias  são obrigatórias, ou seja, todos os eleitores devem comparecer às urnas para escolher o seu candidato. As PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), como são conhecidas, servem para eliminar coligações nanicas e resolver disputas internas dentro de alianças maiores. Em 2023, mais de 20 chapas concorreram para 15 coligações.

Nas pesquisas de intenção de voto realizadas antes do pleito, a coligação governista “Unión por la Patria” aparecia nas primeiras posições representada pelo ministro da Economia, Sergio Massa. Já a aliança “Juntos por el Cambio”, de centro-direita, teve uma disputa acirrada entre a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e o atual chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Horacio Larreta.

Correndo por fora e candidato único da chapa “La Libertad Avanza”, Javier Milei aparecia entre a 2ª e a 4ª posição nos levantamentos. No entanto, a abertura do resultado das urnas na noite de domingo mostrou Milei liderando com quase 10% de vantagem em relação a Sergio Massa. 

“Estamos diante do fim do modelo de castas, baseado naquela atrocidade de que onde há necessidade nasce um direito, mas esquecem que alguém tem que pagar por isso. Cuja aberração máxima é a justiça social, mas esquecem que é injusto que poucos paguem”, disse Javier Milei em seu discurso após a vitória.

Levando em conta a votação por coligações, “La Libertad Avança” teve 31%, “Juntos Por el Cambio” com 28% e “Unión por la Patria”  com 27%, o seu pior desempenho desde a criação das eleições primárias.

Quem é Javier Milei?

Economista formado pela Universidade de Belgrado, Milei é considerado um político de extrema-direita, embora não se identifique como um. Ele começou a se tornar uma figura conhecida entre os argentinos após lançar um programa de rádio, em 2017, onde ele falava sobre suas ideias ultraliberais. Sucesso de audiência, foi convidado a participar de programas no horário nobre na televisão argentina, consolidando sua imagem.

Javier Milei se autointitula como um anarcocapitalista, e possui posições pouco usuais para políticos de extrema-direita, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Para exemplificar, ele é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois o considera um contrato como qualquer outro e que o Estado não pode interferir.

Para a economia, a principal proposta de sua candidatura é a dolarização para buscar maior estabilidade e acabar com a inflação no país. Além disso, defende reformas trabalhista e tributária, privatizações, eliminação de planos sociais e a redução de gastos públicos.

Como vice de sua chapa, Milei escolheu Victoria Villaruel, deputada que comanda uma entidade de assistência aos que se dizem vítimas de ações de guerrilhas de esquerda durante a ditadura argentina.