La Cordillera: Ricardo Darín como presidente da Argentina

calendar 10 de junho de 2018
user Rosane

La Cordillera (2017), de Santiago Mitre, diretor argentino de 38 anos, é um thriller político de alto nível e que, inexplicavelmente, está custando muito a ser lançado nos cinemas brasileiros. Parece que entra direto nas plataformas digitais (NOW, iTunes e Netflix).

Talvez seja porque, ao focalizar um encontro de presidentes latino-americanos, coloque o primeiro mandatário brasileiro como um déspota populista e isolacionista.

Ricardo Darín, excelente como sempre, vive Hérnan Blanco, o presidente argentino, em meio a uma crise política internacional. Ao lado do Brasil, apoiou a criação de uma entidade petrolífera unicamente sul-americana, mas também está seduzido pela proposta americana de unir todas as Américas. Além disso, passa por problemas de política interna, com denúncias de corrupção em sua campanha, feita por seu ex-genro e familiares, enquanto sua filha tem uma crise nervosa sem precedentes.

Tudo isso ocorre em um isolado hotel nas alturas da Cordilheira dos Andes, a mais linda paisagem chilena.

O cinema argentino tem se destacado mais recentemente nos dramas urbanos, em filmes maravilhosos como Elsa e Fred, O Filho da Noiva, O Segredo de seus Olhos, Um Conto Chinês e Contos Selvagens. La Cordillera retoma uma tradição anterior do clássico cinema portenho: a dos thrillers políticos, que rendeu grandes clássicos pós-ditadura, em filmes inesquecíveis como A História Oficial, Camila, Assassinato no Senado da Nação, Tempo de Revanche e Dar-se Cuenta.

Este magnífico trabalho do jovem Mitre também evoca outro clássico do cinema de nossos vizinhos, Hombre Mirando al Sudeste, de Eliseo Subiela. Na obra-prima, o fantástico e o real, o onírico e o dramático se misturam de tal forma que os protagonistas e os espectadores não sabem mais o que existe ou é apenas fantasia.

O mais importante é que, nos três planos narrativos que escolheu (a conferência de presidentes, o drama pai x filha e o conflito interno do personagem sobre que destino seguir), o diretor imprime uma força e uma profundidade sensacional. Assim, proporciona ao espectador interessado em dramas mais reflexivos um material apto a ser consumido horas depois que o filme terminou.

E, como cereja do bolo, La Cordillera enfoca de passagem o jornalismo político, através da personagem da jornalista Claudia Klein, de participação notável no filme.

La Cordillera é, acima de tudo, mais um gol para Mr. Darín e para o cinema argentino, cada vez melhores.

Por Marco Antônio Campos

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