O encontro do presidente Lula com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ocorrido na última segunda-feira (29), gerou uma repercussão negativa nas áreas econômica e diplomática. O líder venezuelano, que é acusado pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) por violar direitos humanos, ouviu falas elogiosas do presidente brasileiro.
“Penso que esse novo tempo que estamos marcando agora não vai superar todos os obstáculos que você tem sofrido ao longo desses anos. Briguei muito com companheiros social-democratas europeus, com governos, com pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do mundo, para as pessoas que defendem a democracia, negarem que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo. E o cidadão (Juan Guaidó) que foi eleito para ser deputado ser reconhecido como presidente”, disse Lula durante o encontro.
De acordo com o cientista político Diogo Costa, diretor executivo do Instituto Millenium, organização que produz pesquisas para subsidiar o desenvolvimento de políticas públicas, as falas prejudicam um país que quer reencontrar o seu papel na economia global.
“Um presidente brasileiro que trata a maior tragédia humanitária do continente como uma mera narrativa corre o risco de ser percebido como tolerante a similar declínio institucional. É o tipo de sinalização que pode desencorajar o investimento doméstico e estrangeiro, devido ao aumento percebido do risco político”, opina Costa.
Os impactos negativos das declarações de Lula também atingem as relações do Brasil com outros países. Desde o início de seu terceiro mandato, o presidente vem trabalhando para posicionar o país como um ator importante no cenário internacional, chegando a propor a atuação como negociador na Guerra entre Rússia e Ucrânia. Na visão de Diogo Costa, a postura do petista o desconecta de outras figuras globais.
“O sinal de alerta institucional não apenas acende, como ilumina os cantos esquecidos da biografia de Lula, alguém que já elogiou, enquanto presidente, ditadores como Ahmadinejad e Kaddaffi. São atitudes que revelam uma desconexão do presidente brasileiro de outras lideranças globais, diminuindo o potencial diplomático para um país que quer reencontrar seu lugar na economia global”, disse o cientista político.
O governo defende que as relações diplomáticas com a Venezuela sejam voltem à normalidade, adotando uma linha pragmática. “A gente tinha uma relação comercial que teve um fluxo de praticamente seis bilhões e seiscentos milhões de dólares e hoje tem pouco menos de dois bilhões de dólares. Isso é ruim pra Venezuela e é ruim pro Brasil. Porque o comércio extraordinário é aquele que funciona como se fosse uma via de duas mãos. A gente vende, a gente compra”, disse Lula.