Miss Sloane – Lobby, política & valores – Por Marco Antonio Campos

calendar 28 de maio de 2017
user Rosane

Ao falar sobre cinema, gosto muito de indicar para as pessoas ótimos filmes que, por diversas razões, passam despercebidos, em meio a tantas opções de lazer de que dispomos.

Neste ano, um excelente filme, com um tema atualíssimo, foi exibido e praticamente ninguém viu e/ou comentou. Trata-se de Armas na Mesa, o péssimo titulo brasileiro para Miss Sloane (2016), de John Madden.

Madden, um inglês de 68 anos, traz em seu currículo alguns ótimos títulos, como o thriller A Grande Mentira (2010), com Helen Mirren, o heterodoxo Kilshot – Tiro Certo (2008), com Mickey Rourke e Diane Lane, e o sempre discutido (do qual eu gosto muito) Shakespeare Apaixonado (1998), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor.

Miss Sloane é um thriller sobre uma das principais lobistas de Washington, que nos dias atuais resolve trocar de empresa, passando a trabalhar para uma firma menor que advoga a causa contra a indústria de armas nos Estados Unidos.

Para iniciar, há que se mencionar que o roteiro de Miss Sloane é uma aula de como deve ser um roteiro nota dez, extremamente bem construído pelo português Jonathan Pereira.

Temas da maior atualidade, como o desarmamento, o lobby, a corrupção nas esferas pública e privada, o sistema eleitoral, o fim da privacidade, as redes sociais, o papel da imprensa, tudo passa por Miss Sloane.

O segundo ponto de altíssimo nível do filme é seu elenco impressionante.  John Lithgow e Sam Waterston, dois veteranos, estão excelentes, como sempre. Mark Strong, um dos astros em ascensão de Hollywood, ótimo. A novata Alisson Pill, revelação da série Newsroom, da HBO, faz um trabalho magnífico. Gugu Mbatha-Raw (Um Homem entre Gigantes e Os Dois Lados da Justiça) se demonstra outra vez notável atriz.

Mas o filme, como não poderia deixar de ser, é todo de Jessica Chastain. Como uma grande atriz, ela conduz a ação do início ao fim, dando o tom de cada cena conforme o estado de espírito de sua personagem. Impecável. Memorável. Estupenda.

O lobby deve ser permitido? Quais os limites? Existe ética no lobby? Ou o que importa é vencer a causa? Até onde se pode ir? Os fins justificam os meios?
Miss Sloane vai fundo na discussão de causas, pessoas e valores. Deixa muitas questões para reflexão do espectador interessado.
Como diz a personagem principal Elizabeth Sloane: “Fazer lobby é sobre previsão. Sobre antecipar os movimentos do seu oponente e elaborar contramedidas. O vencedor traça um passo à frente da oposição. E joga seu trunfo logo após eles jogarem o deles. Trata-se de certificar-se de surpreendê-los. E que eles não te surpreendam.”

Miss Sloane é um grande filme.

Marco Antonio Campos é Advogado e sócio da Campos Escritórios Associados

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