José Carlos Sauer – Diretor do Instituto Methodus
A eleição municipal de 2024, que ocorrerá daqui um ano, já está na pauta das máquinas partidárias e movimentam os bastidores da política porto-alegrense. Para a situação, que pretende concorrer à reeleição, as ações serão prioritariamente a ampliação ou reedição da coligação partidária que deseja se manter no poder. Para os demais partidos, que ocupam o campo da oposição, as articulações passam, neste momento, pela escolha de nomes de possíveis candidatos(as) e por exaustivas negociações para composição de coligações.
Dirigentes partidários experientes são sabedores que o êxito absoluto na política não existe. Antes da disputa eleitoral dedicam-se à negociação, cientes que aspirações serão frustradas, compromissos serão desfeitos e ideais absolutos serão colocados em xeque. Ao final, caso sejam exitosos em suas aspirações, pagarão o preço necessário pela partilha do poder conquistado. O que está em jogo, neste momento, é a capacidade dos dirigentes em articular as melhores opções.
Anteriormente, quando os recursos das campanhas eleitorais vertiam do mundo privado, as candidaturas e coligações eram debatidas em público, aproximando eleitores e políticos através de entrevistas, eventos e ações partidárias. A necessidade de apoio financeiro, político e social orientava, em grande parte, a decisão sobre quem seriam os candidatos representantes dos partidos ou coligações. Era perceptível o esforço das máquinas partidárias para apresentar candidaturas competitivas.
A partir do início do financiamento público de campanha, como alternativa a proibição do privado e com expectativa de extinguir a corrupção, é perceptível a perda de competitividade de parcela significativa das candidaturas apresentadas aos eleitores. Portanto, se anteriormente ser competitivo era condição prioritária para participar da disputa, hoje, com a garantia de recursos públicos para realização das campanhas, as prioridades passaram a ser outras. Atualmente, as escolhas de candidatos e a composição de coligações são realizadas, em maioria, no silêncio dos gabinetes políticos.
Por óbvio, a introdução não esgota a complexidade das negociações as quais partidos e candidato(a)s estão submetidos, mas este recorte possibilita que eu apresente a você o cenário político que envolve a realização de nossa segunda pesquisa eleitoral em Porto Alegre.
Inicialmente programada para ser realizada no mês de Setembro, optamos por adia-la para Novembro, afastando-nos dos eventos climáticos que afligiram o Estado do Rio Grande do Sul nos últimos dois meses. Foi necessário aguardar que a vida dos Gaúchos e porto- alegrenses retornasse à normalidade, ou próximo dela, para ir a campo e ouvir a opinião dos eleitores.
Este artigo inaugura uma série de divulgações que serão veiculadas exclusivamente no site do Instituto Methodus. Aqui, você terá acesso a análises, gráficos e simulações que percorrerão cenários das possíveis disputas a prefeito(a) da Capital. Ainda, investigamos o comportamento do eleitor, que nos presenteou com informações exclusivas sobre a sua avaliação da Câmara de Vereadores e sua confiança (ou falta dela) em personalidades políticas conhecidas. A decisão do voto feminino, a posição ideológica dos eleitores, a avaliação de governo e a educação municipal, os meios que influenciam a decisão e a relação do eleitor com o voto também foram temas examinados.
Todo pesquisador deve, antes de tudo, ouvir, para posteriormente pensar sobre o tema que pretende conhecer. Ao nos despirmos de nossas convicções nos deslocamos para o campo da isenção, que não é uma tarefa fácil e poucos se dispõe a realizá-la.
Para exemplificar este desafio, compartilho com você os relatos que ouvimos durante a investigação etnográfica que realizamos anteriormente a realização desta pesquisa que começamos a divulgar hoje.
Nos meses de setembro e outubro percorremos a cidade ouvindo a opinião do eleitor sobre: Sebastião Melo- MDB, Dr. Thiago – UNIÃO BRASIL, Viera da Cunha – PDT, Manuela D`Ávilla – PCdoB, Maria do Rosário-PT, Juliana Brizola – PDT, Luciana Genro – PSOL, Nadine Anflor-PSDB e Mari Pimentel – NOVO.
Recebemos dos eleitores opiniões valiosas sobre os possíveis candidato(a)s, que foram posteriormente testados na pesquisa quantitativa. Abaixo apresento um resumo desta etapa exploratória. Vejamos:
é um Prefeito reconhecido como conhecedor da cidade e atento a todos. É um sujeito que gosta de ser prefeito, tem carinho pela cidade, conhece seus becos e vielas, e sabe o nome das pessoas pelos locais que circula. Para o eleitor, Melo tem propósito, ele queria ser o prefeito e lutou por isso, se alguém acha que está ruim com ele, pior seria sem ele!
Quem? Insisto explicando um pouco mais, o Deputado Dr. Thiago, ele foi Vereador aqui da cidade! Poucos sabem algo sobre ele, alguns lembram do nome e de sua atividade como médico, mas não o vinculam imediatamente como candidato a prefeito da capital.
Lembram dele na campanha para Governador, mas não sabem dizer quais causas defende. Insisto: Lembra do Brizola, é do mesmo partido do Vieira. Sabe moço, desse aí eu já ouvi falar, mas não sei dizer nada dele não! A lembrança do Brizolismo e seus valores está muito distante da realidade desta população, mesmo insistindo na lembrança da principal liderança do PDT, ficamos sem muitas respostas.
Não há quem não saiba falar dela, seu nome causa reações, positivas e negativas, sua luta é reconhecida e para muitos é uma política vinculada a cidade. Ela é guerreira, sofreu muito na eleição passada! É jovem, tem muito tempo pela frente e pode ser prefeita sim! Olha eu não gosto dela, mas não falo mal dela não! Foram diversos os depoimentos, mas um em especial chamou atenção. Gosto dela e respeito suas posições, o que falta para ela ser prefeita é conhecer a cidade.
Rosário é conhecida dos porto alegrenses, sabem que é, sabem que é Deputada. Não vinculam seu nome com a cidade, para este eleitores sua candidatura é algo improvável. Questionam, mas ela conhece Porto Alegre, estando tanto tempo fora? Não sei não, não acredito que ela vai deixar de ser Deputada para ser Prefeita.
Com um pouco de insistência encontramos eleitores que conhecem Juliana. Olha, ela fala muito daquele avô dela! Não sei não, suas ideias são da época do avô, o mundo mudou, não sei se votaria nela. Poderia ser mais autêntica! Para o eleitor, Juliana deveria mostrar a que veio, explorando menos a imagem do avô.
Gente, a Luciana! Claro que sei quem é, mas para prefeita? Olha eu gosto dela, não gosto do partido dela! Não sei, o pai foi um bom Governador, mas tenho dúvidas sobre ela. Não gosto dela! O nome de Luciana promove debate e todos tem a sua opinião.
Não encontramos eleitores que soubesse quem é Nadine. E a Delegada Nadine, você já ouviu falar? Talvez por ter ingressado recentemente na política Nadine não seja lembrada.
A Vereadora? Olha eu já ouvi falar, mas não sei dizer nada dela. Não conheço. Mari não foi lembrada pelos entrevistados, limitando muito a obtenção de alguma percepção mais elaborada sobre sua imagem.
Estes relatos serão para muitos uma novidade. Como alertei anteriormente, ouvir o eleitor sem o julgamento de suas opiniões é tarefa de pesquisador!
Vou revelar a você duas informações que serão primordiais para compreensão dos resultados que divulgaremos nas próximas semanas. São elas: o merecimento de reeleição do atual prefeito e a avaliação de sua administração.
Com a palavra o eleitor:
Não precisamos detalhar os números, você já percebeu que a maioria dos eleitores de Porto Alegre desejam a reeleição do atual prefeito, o que nos leva a duas perguntas que responderemos ao longo das divulgações: Aqueles que não desejam a reeleição, desejam a mudança? Optar por reeleger o atual Prefeito, é sinônimo de aprovação do seu governo?
Irei analisar estas e outras questões na próxima divulgação, quando apresentarei a você as simulações eleitorais.
E o governo municipal, como está avaliado?
Avaliações de administração representam a relação que o cidadão tem com o seu local de moradia ou trabalho, se em seu bairro serviços como limpeza, iluminação, coleta de lixo e transporte funcionam, a avaliação será sempre positiva. Portanto, estamos diante de uma administração que é considerada eficiente para uma significativa parcela dos porto-alegrenses. O destaque vai para os eleitores que desejam a reeleição (48%), destes, 98% avaliam a administração como regular, boa ou ótima. Da mesma maneira, aqueles que não desejam a reeleição (42%), consideram a administração como regular ou boa, alcançando 51% dos respondentes.
Encerro o artigo destacando: eleitores se interessam por políticos que demonstrem propósito, conhecimento e capacidade de governar a cidade, em detrimento de partidos e posições ideológicas que, para eles, não são prioridade.
Foto: Alex Rocha/PMPA