Reconstruindo a credibilidade do brasil e reposicionando-o no mapa global de investimentos

Por Leonardo Chagas, CEA | Especialista em Investimentos do Instituto Millenium

O Brasil, atualmente fora do grau de investimento (investment grade), enfrenta um desafio significativo para impulsionar seu desenvolvimento socioeconômico. A falta de classificação financeira positiva limita severamente o acesso do país ao capital global, estimado em mais de US$ 50 trilhões. Investidores institucionais priorizam ativos que possuam esse selo de credibilidade, o que torna o Brasil menos atraente no cenário global de investimentos. Esse obstáculo impacta diretamente setores cruciais, como infraestrutura, energia, saúde e agropecuário, prejudicando o avanço tecnológico e a modernização da economia nacional.

Fatores que Impedem a Recuperação da Confiança Internacional

A perda do grau de investimento do Brasil não foi uma consequência isolada, mas um reflexo de fatores estruturais que vêm se deteriorando desde 2015. Segundo Leonardo Chagas, especialista em investimentos da Musa Capital, “a recuperação da confiança internacional exige mais do que ajustes pontuais em indicadores econômicos; ela demanda reformas profundas e sustentáveis.”

Os fatores centrais que dificultam essa recuperação incluem:

1. Desequilíbrio Fiscal Contínuo: A falta de alinhamento entre despesas públicas e receitas tem gerado déficits fiscais persistentes. A dívida pública brasileira pode alcançar 84,2% do PIB até 2028, o que pressiona as finanças públicas e aumenta o custo da dívida. Isso afeta diretamente a confiança dos investidores e a atratividade do país para financiamentos de longo prazo.
2. Ambiente Institucional e de Negócios: O Custo Brasil, que atingiu R$ 1,7 trilhão anuais em 2022, continua sendo um dos maiores obstáculos. A complexidade regulatória, a insegurança jurídica e a intervenção estatal excessiva criam um ambiente de negócios volátil, prejudicando a capacidade do país de atrair investimentos estáveis e de longo prazo.
3. Rigidez Orçamentária: A rigidez orçamentária, com mais de 90% das despesas compostas por gastos obrigatórios, limita a flexibilidade fiscal e torna a gestão fiscal mais difícil, o que aumenta a percepção negativa sobre a capacidade do país de lidar com suas finanças de maneira sustentável.

Impactos nos setores estratégicos

O impacto da falta de grau de investimento é evidente em setores estratégicos:

• Energia e Infraestrutura: O setor de energia e infraestrutura é particularmente afetado pelo prêmio de risco-país, que eleva as taxas de financiamento em mais de 2 pontos percentuais, tornando projetos essenciais mais caros e, em muitos casos, inviáveis. O mercado de debêntures de infraestrutura ainda enfrenta dificuldades para se consolidar como uma fonte robusta de financiamento de longo prazo.
• Saúde, Inovação e Tecnologia: O alto custo de financiamento privado e a escassez de recursos públicos para P&D dificultam a modernização da infraestrutura de saúde e o avanço em inovação tecnológica. A incerteza do mercado e a alta percepção de risco afetam também o fluxo de investimentos em capital de risco e em tecnologia.
• Agronegócio e Sustentabilidade: O agronegócio é afetado pela alta dos custos de financiamento, que dificultam a expansão e a adoção de tecnologias sustentáveis. A transição para uma agricultura de baixo carbono, que exige investimentos expressivos, é prejudicada pela falta de acesso a capital barato.

Caminhos para reconquistar a confiança internacional

A reintegração do Brasil ao grau de investimento exige ações estruturais consistentes. Leonardo Chagas destaca que “a implementação de um arcabouço fiscal sólido e previsível é fundamental para restaurar a confiança dos investidores no Brasil”. Abaixo, os principais pontos que precisam ser abordados para avançar nessa direção:

1. Fortalecimento da Responsabilidade Fiscal: É crucial que o Brasil demonstre um compromisso claro com a gestão eficiente dos gastos públicos e implemente reformas fiscais eficazes para estabilizar a dívida pública e reduzir o prêmio de risco soberano.
2. Melhoria do Ambiente de Negócios: A redução da burocracia e a reforma tributária podem contribuir para diminuir o Custo Brasil, enquanto o fortalecimento da segurança jurídica garante maior previsibilidade e atratividade para investimentos.
3. Estabilidade Regulatória e Institucional: Reformas regulatórias são necessárias para garantir a previsibilidade e a transparência nas decisões econômicas, além de fortalecer a independência das instituições essenciais para a confiança dos investidores.
4. Abertura e Competitividade: A abertura comercial e a integração com o mercado global são indispensáveis para recuperar a competitividade do Brasil e atrair investimentos externos.
5. Diálogo Público-Privado: Um diálogo constante e transparente entre o governo e o setor privado pode identificar gargalos e construir soluções para melhorar o ambiente de negócios, ajudando a criar as condições necessárias para o retorno ao grau de investimento.

A recuperação da credibilidade do Brasil no mercado global depende de um esforço conjunto entre o setor público e privado. A implementação de reformas estruturais, especialmente na área fiscal e regulatória, é essencial para restaurar a confiança dos investidores.

O Brasil precisa demonstrar sua capacidade de gestão responsável das finanças públicas e criar um ambiente de negócios estável e previsível. Com as medidas corretas, o país tem a oportunidade de voltar a ser um destino atrativo para investimentos, impulsionando seu crescimento econômico e promovendo a inovação e a sustentabilidade.

Leonardo Chagas, CEA é consultor e especialista em Investimentos da Musa Capital. Bacharel em Relações Internacionais pela UFRGS, é diretor da Rede Liberdade e presidente do Conselho do Instituto Atlantos.