O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) vai anunciar a volta dos carros populares e um plano de incentivo à indústria. O primeiro pacote do plano está previsto para ser lançado no Dia da Indústria, 25 de maio, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Entre as medidas que devem ser anunciadas estão linhas de créditos para o setor fabril, reduções tributárias, aumento do índice de nacionalização dos bens manufaturados e um programa de financiamento para veículos.
A retomada dos carros populares no Brasil é uma das principais metas do ministério comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. O setor automotivo ainda se recupera dos impactos causados pela pandemia e da queda na demanda por automóveis. Atualmente, os menores preços dos veículos 0km no mercado ficam, aproximadamente, entre R$ 70 mil e R$ 80 mil.
Recentemente, esses valores foram alvo de críticas por parte do presidente Lula durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável. “Qual pobre que pode comprar carro popular por R$ 90 mil? Um carro de R$ 90 mil não é popular. É para classe média”, disse o presidente no encontro realizado no dia 4 de maio.
Um dos objetivos iniciais do governo com o pacote de medidas é reduzir os preços de veículos compactos com motor 1.0. Os novos valores ficariam entre R$ 50 mil e R$ 60 mil, e o Renault Kwid deve ser o primeiro modelo a aderir ao programa. Representantes da empresa francesa estiveram reunidos com Alckmin nas últimas semanas para tratar do assunto.
Outros modelos também podem aparecer no programa, como o C3, da Citröen, e o Mobi, da Fiat.
Impactos na economia
Apesar da repercussão do pacote de medidas do governo e da volta dos carros populares, existem alguns desafios a serem superados pela indústria brasileira. De acordo com o economista Mário de Lima, as decisões são válidas, mas não a longo prazo.
“Um programa de retomada da produção de carros populares, como na década de 1990, ao meu ver, só é válido se for uma política de curto prazo, voltada a garantir os empregos da cadeia produtiva da indústria automobilística”, argumenta de Lima.
Na opinião do especialista, existem outros desafios que precisam ser superados pela indústria automotiva para alcançar o crescimento novamente.
“O atual nível de inadimplência e a elevada taxa de juros apontam para grandes desafios para a indústria automotiva. O foco do governo deve continuar sendo o ajuste fiscal, a reforma tributária, e uma reforma administrativa profunda para garantir a retomada da estabilidade e do crescimento econômico. Enfim, tal política não pode ser pensada como solução para os problemas brasileiros”.
Carros populares têm valor político para Lula
De acordo com a cientista política Elis Radmann, fundadora do Instituto Pesquisas de Opinião, a retomada da produção dos carros populares tem um papel simbólico para o governo Lula. Na visão dela, a medida se conecta com um sonho da população de classe média baixa e a lembrança nostálgica da mobilidade social que ocorreu no segundo governo do petista, elementos centrais nas eleições do ano passado.
“Nas pesquisas qualitativas, esta fatia do eleitorado sente saudade da tão falada ‘nova classe média’, e um dos ícones deste período era o acesso ao carro popular zero com juros reduzidos”, afirma Radmann.
Por outro lado, a especialista coloca que a retomada da produção de carros populares gerará debates em outros setores, como a mobilidade urbana. “Haverá uma crítica dos demais setores da sociedade que reclamam que o sistema viário não comporta mais veículos, que é necessário ampliar a capacidade de fluidez do trânsito para depois pensar em política de ampliação da frota“.
Imagem: Marcelo Camargo / Agência Brasil