Análise: O difícil equilíbrio de Lula entre sindicatos e popularidade no escândalo do INSS

calendar 5 de maio de 2025
user Gabriel Goerhing

Análise por Leonardo Barreto

Na pesquisa Atlas/Intel sobre o desvio de aposentadorias para associações sindicais com, ao que tudo indica, a participação da cúpula do INSS, um dado deve entrar no radar do governo: 84,4% disseram acompanhar de forma constante o noticiário sobre o tema.

Além de acompanharem o tema com um nível de atenção incomum para o que normalmente é dedicado ao noticiário político, as pessoas responsabilizam os atuais mandatários pelo problema, considerando que 85,3% defenderam a demissão do ministro Carlos Lupi, que acabou caindo na última sexta (2).

Com alta sensibilidade da população, o governo não deveria descuidar da guarda. Ainda mais considerando que a faixa dos eleitores mais velhos é a única na qual Lula ainda tem saldo positivo de popularidade.

Mesmo assim, o Planalto parece atuar com o freio de mão puxado.

Nomear o ex-deputado Wolney Queiroz para o cargo parece não ser medida suficiente forte para demonstrar compromisso com a solução do problema porque ele era secretário-executivo do ministério e participou das reuniões sobre os desvios.

Muito se falou que o PT não pode renunciar ao apoio do PDT no Congresso.

Mas é possível imaginar que a questão seja outra.

O ex-ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff disse, em seu programa na CNN Brasil, que “não tem cabimento demonizar sindicatos”. Hoje (5), a Folha publica matéria mostrando que o Ministério o Trabalho quintuplicou verbas para ONGs ligadas a centrais sindicais.

Desde que a contribuição compulsória de trabalhadores foi proibida pela reforma trabalhista (2017), sindicatos enfrentam problemas de financiamento e o governo tem buscado formas de reestabelecer o fluxo de dinheiro. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse no início do ano que o governo apresentaria um projeto para rever esse tema.

No campo da Justiça, o STF decretou em 2023 a possibilidade de cobrança de contribuições assistenciais de trabalhadores não sindicalizados desde que resguardado o “direito de oposição”. Mas há questões pendentes como, por exemplo, a possibilidade ou não de cobrança retroativa de quem nunca se manifestou contrário ao desconto antes da decisão do Judiciário.

Considerando que a relação do PT com o movimento sindical e o histórico de apoio político/eleitoral dessas entidades a lideranças de esquerda, é natural imaginar que Lula deseje administrar essa crise sem ameaçar a continuidade do fluxo de recursos para sindicatos e, na medida do possível, sem criminalizá-los.

Esse cuidado com os sindicatos concorre com o risco de desgaste de popularidade como vetores principais de orientação do governo na gestão deste escândalo. Diante dessa situação, o apoio ou não do PDT ao governo é o que menos importa.

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