Ativista de inovação, Ademir Piccoli aponta sinais de evolução nesse ambiente, com a transformação digital e adoção de inteligência artificial melhorando o serviço ao cidadão
Assim como a sociedade e as empresas de forma geral, o ecossistema de Justiça passou por profundas mudanças devido à pandemia. E, apesar dos grandes desafios enfrentados, reúne as condições para sair fortalecido dessa crise sanitária, agregando inovação, agilidade e capacidade de adaptação. É o que projeta um dos maiores especialistas do país no assunto: o ativista de inovação, Ademir Piccoli.
O CEO do Judiciário Exponencial traz o exemplo do Tribunal de Justiça de São Paulo, que ampliou o uso de teleaudiências. Foram realizadas mais de 466 mil desde o início da pandemia, em março do ano passado, até o final de junho de 2021. Além disso, apenas no primeiro semestre deste ano, magistrados e servidores participaram de 716 mil reuniões, cursos e audiências totalmente virtuais.
Outro avanço substancial se deu com a implementação do Juízo 100% Digital por todos os estados brasileiros, em pouco menos de sete meses. Com a iniciativa, liderada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o cidadão pode ter acesso à Justiça sem precisar comparecer fisicamente aos fóruns. “No último ano, vimos o crescimento exponencial da tecnologia. A necessidade urgente de sua implementação em rotinas que antes não eram tão tecnológicas aumentou a relevância e, consequentemente, seu desenvolvimento. E quem não utilizava essas ferramentas começou a ficar para trás”, analisa Ademir Piccoli.
Inteligência artificial a serviço da Justiça
Um painel analítico no portal do CNJ também mostra que já há 41 projetos de inteligência artificial (IA) em andamento em 32 tribunais pelo país. O Supremo Tribunal Federal (STF) conta com apoio do Victor, que lê todos os recursos extraordinários que vão para a Corte e identifica quais estão ligados a assuntos de repercussão geral. Já o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte já totaliza três robôs: Clara, Jerimum e Poti. Sua função é ajudar na diminuição do acúmulo de ações judiciais — lendo documentos, sugerindo tarefas e enviando sugestões.
O emprego de AI não para por aí. Desenvolvida em uma parceria entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO), a plataforma Sinapses está disponível para todos os tribunais que utilizam o Processo Judicial Eletrônico (PJe), otimizando a realização de tarefas repetitivas e, ao mesmo tempo, garantindo maior segurança e respaldo para minutar um processo. Há outros cases bem-sucedidos em outros estados do país.
Piccoli é uma das vozes que tem feito ecoar a necessidade de implementação de novas culturas digitais, com atenção à segurança digital, no meio judicial. “Esse é um ambiente ainda pouco familiarizado com a tecnologia. E, recentemente, se viu à mercê de ataques cibernéticos e da necessidade de otimização num fluxo de trabalho muitas vezes ineficiente”, pondera.
Mas o que vem pela frente? O especialista é taxativo: “Todos nós, pessoas físicas e jurídicas, estamos vivenciando outros formatos de trabalho, modelos híbridos e mudanças de perspectiva para o futuro. Cabe a cada um trabalhar essa mudança de mindset em busca da adaptação. O ecossistema de Justiça tem tudo para inaugurar uma nova era, quando a tecnologia e a inovação vão qualificar e muito o serviço ao cidadão”.