Neste final de semana, uma pergunta desafiou analistas. Afinal, a prisão de Jair Bolsonaro terminou ou começou um processo político?
Por todos os ângulos que se olhe, a questão da tornozeleira eletrônica revela a incapacidade que o ex-presidente hoje tem de perceber a realidade, fixar objetivos e construir estratégias.
Estando em surto ou não ao tentar romper a tornozeleira, Bolsonaro está com suas faculdades colocadas em dúvida.
Isso não muda o fato de que tudo o que o ex-presidente Jair Bolsonaro faz tem repercussão e influência sobre 2026. Mas serve para moderar as expectativas a respeito do protagonismo que ele pode ter no futuro imediato.
Hoje, a aparição e Bolsonaro tem influência positiva para Lula no cenário de reeleição.
No primeiro semestre de 2026, a popularidade do presidente Lula estava nas cordas, com 28% de avaliações ótimas ou boas. O mínimo para ser competitivo na busca pela reeleição é 30%.
Foi só crescer a sombra do bolsonarismo que o jogo inverteu o sinal: anistia, tarifaço dos EUA e PEC da blindagem trouxeram Lula de volta para o patamar competitivo, embora no seu limite mínimo (31%).
A questão da tornozeleira e da prisão levarão o PL a retomar o tema da anistia na Câmara, o que é bom para o petista, especialmente se tirar o tema “segurança pública”, que tanto gera desconforto para o governo, da pauta.
Entretanto, a influência de Bolsonaro no processo político se tornará cada vez mais incidental e indireta. Ele vai se tornar mais um contexto, uma agenda de políticas públicas, do que um ator.
A questão da anistia não será mais debatida para recolocar Bolsonaro no jogo, mas como um tema de atenção humanitária. A polarização se reorganizará em torno de pautas, como mostra a questão da segurança pública, em não mais a partir de perfis antagonistas, pelos menos não até os candidatos serem oficializados.
A direita não bolsonarista – ou todos os setores que não são petistas – irá estruturar seu projeto sem depender do aval do ex-presidente.
A prisão foi o evento. Mas o fato político é a falta de condição do ex-presidente de liderar sua própria defesa e a oposição no país, algo compreensível, considerando sua situação de saúde e privação de liberdade. A partir dessa clareza é o que o jogo irá se reorganizar.