O professor da USP, Fernando Limongi, analisou recentemente em livros um dos grandes mistérios da Lava-Jato: detendo todas as condições para abafar as investigações ou fazer correções logo no início do processo, por que o sistema político deixou a “República de Curitiba” seguir em frente?
Sua tese é a de que grupos políticos viram nas investigações uma oportunidade de se livrarem de adversários pela via policial, acreditando na lógica de que o processo iria “pegar meu vizinho, mas vai me poupar”.
Não é que a operação tenha sido motivada politicamente, mas foi potencializada com esse fim quando ocorreu.
Nesse sentido, a ex-presidente Dilma Rousseff pode ter visto no processo do Petrolão, por exemplo, uma chance de rifar o MDB e ganhar independência em relação a Lula. O PSDB viu a oportunidade de enfraquecer o PT e assim por diante.
Na literatura da Ciência Política, sabe-se há muito que o aumento do número de descobertas de casos de corrupção não significa necessariamente que os desvios se multiplicaram além do habitual.
Pode ser, na verdade, a consequência de um acirramento da luta entre grupos políticos que decidiram não conviver mais na arena regular e passaram a recorrer às denúncias para retirar oponentes da mesa.
O primeiro episódio que denotou a aplicação dessa estratégia ocorreu no mensalão, quando líderes do primeiro governo Lula gravaram e vazaram um indicado do antigo PTB recebendo propina. O objetivo era fragilizar o “Centrão” da época.
O problema, como ocorreu naquela oportunidade e, depois, na Lava-Jato, é que esse tipo de coisa facilmente escapa do controle.
A CPMI do INSS, investigações da PF sobre a relação entre o PCC e corretoras do mercado financeiro, e apurações sobre desvios de emenda PIX para municípios oferecem são oportunidades quase irresistíveis para que dinâmica se repita.
As condições necessárias estão presentes, a começar por uma elite fraticida, um que é fator mais relevante do que os desvios em si. Para levar padre Antônio Vieira, sempre lembrado pelo requisitado consultor em reputação Carlos Parente, o escândalo do mal interessa mais do que o próprio mal.