Os decretos editados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Marco do Saneamento, no início de abril de 2023, revogavam regulamentações editadas em 2020 e 2021, mas não passaram. Do total de votos, 295 optaram por barrar os decretos, contra 136 a favor deles.
A inquietude resta na maneira como os partidos, dos quais o presidente se aproximou nas eleições e que receberam juntos um total de nove ministérios, votaram: apoio quase total de MDB, União Brasil e PSD. Todos os 48 deputados da União Brasil que estavam presentes na sessão votaram contra o governo. No MDB, quase todos, 31 de 32. No PSD, 20 de 27.
Neste ponto, vale lembrar a fala do presidente da Câmara nesta quarta-feira (03/05), Arthur Lira (PP-AL): “O governo Lula tem algumas facilidades de articulação, mas ao mesmo tempo esse é o maior problema do governo. Ele reúne, reúne, reúne e não decide”. Lira ainda afirmou que o governo Lula precisa entender que a relação do Executivo com os demais Poderes mudou de 2002 para 2023, com leis e estruturas que “modificaram o comando do país”, e que o governo precisa se “moldar” ao novo momento da democracia brasileira.
Quanto ao mérito dos decretos no Marco do Saneamento, sua redação é um substitutivo da original proposta pelo deputado Alex Manente (Cidadania-SP) para o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 98/23, de autoria do deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), ao qual estão apensados outros onze PDLs sobre o mesmo tema. Segundo os autores e deputados defensores da suspensão, o decreto permitiria a regularização de contratos atuais que deveriam ser extintos sem possibilidade de renovação, impedindo a realização de licitação para a contratação do serviço.
O Marco do Saneamento é uma lei de 2020 que estimulou a participação da iniciativa privada no setor e estabeleceu metas de universalização de água e esgoto. Ele havia voltado ao debate após integrantes da equipe de transição de Lula defenderem mudanças na legislação, que estimulou a participação da iniciativa privada no setor de água e esgoto. Na prática, a medida alterou a forma como os contratos de concessão são feitos, tornando obrigatória a abertura de licitação prévia —o que abriu maior espaço para a participação de empresas privadas na disputa.
Num sentido amplo, é importante observar que vários deputados, inclusive do governo, afirmam haver uma fila de derrotas a ser aplicada ao Planalto, no sentido de enviar o “recado” a Lula sobre a necessidade de mudança na articulação política no Congresso. Inclusive o adiamento da votação do PL das Fake News, que Lira retirou de pauta na última terça-feira por pressão política, foi feito para evitar outra derrota do Planalto.