Oscar peso-pesado
*por Fernanda Pandolfi, jornalista e professora de storytelling na ESPM
Percebi um movimento um tanto diferente neste final de maratona rumo ao Oscar 2023, que será realizado no dia 12 de março: a exaustão mental e emocional. Quem resolveu correr atrás de – ao menos – os 10 indicados para melhor filme, precisou de um reforço extra de pulmão, lágrimas e concentração para interpretação. De amigos cinéfilos a outros que apenas curtem um bom filme e até de quem não acompanha muito a sétima arte, mas, nesta época do ano, gosta de garantir um roteiro legal, identifiquei o sentimento comum: está pesado. Ainda ontem, uma conhecida me ligou para pedir uma dica: “Fê, tu que é toda oscarizada, sugere algo leve para assistir no cinema?”. “Neste caso”, respondi, “terei que sugerir algo não oscarizado…”. Será que é o Oscar que está pesado ou nós que estamos sensíveis? De qualquer maneira, resolvi abrir caminhos para quem está incomodado com a carga emocional dos escolhidos pela Academia.
De largada, começo sinalizando os quatro filmes indicados ao prêmio principal que entram na categoria peso-pena: Avatar: O Caminho da Água, de James Cameron, Top Gun: Maverick, de Joseph Kosinski, Elvis, de Baz Luhrman, e Os Fabelmans, de Steven Spielberg. O quarteto tem um ritmo comercial, com linearidade óbvia (contação de história com início, meio e fim fáceis de identificar) e enredos que emocionam de uma maneira previsível, sem desconforto extremo ao espectador. A boa notícia é que Top Gun e Elvis já estão disponíveis no streaming, no Amazon Prime, e HBO Max ou Apple TV, respectivamente, então, caso não queira chegar totalmente despreparado no próximo domingo, é possível dar estes “checks” na lista.
Categoria peso-médio. Selecionei um trio que apesar da complexidade temática e da cutucada forte no cérebro para desacomodar, pensar e interpretar, tem pontos de equilíbrio importantes com a comédia, que amenizam o impacto – mas não a força – da crítica social que carregam. São eles: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, de Daniel Kwan, favoritíssimo ao prêmio e líder de indicações neste ano, Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh, o meu favorito à estatueta pela sensibilidade original, e Triângulo da Tristeza, de Erik Hemmendorff, que lembra um bocado a premiadíssima série White Lotus. No streaming, é possível acompanhar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e Triângulo da Tristeza, no Amazon Prime.
Por fim, entramos nos peso-pesado. Nesta última leva, separei os títulos que me sobrecarregaram por diferentes motivos: temática, storytelling, atuações, direção. Esclareço que isso não significa – mesmo – que o filme seja ruim, é sobre como me fez sentir. Vamos a eles: Entre Mulheres, de Sarah Polly, baseado no livro homônimo de Miriam Toews, é ácido por conta da pauta que envolve um grupo de mulheres abusadas de uma colônia religiosa. Contribuem, também, a escuridão – no fim do túnel – e da tela, e a falta de trilha de sonora combinada aos diálogos intensos. Nada de Novo no Front, de Malte Grunert, é um filme de guerra – isso já bastaria – mas a perspectiva e o roteiro são fundamentais na sensação de inconformismo. E o tão falado Tár, que traz Cate Blanchett no papel da renomadíssima e narcisística maestrina Lydia Tár, com direção e textos densos que me arrastaram por 2h40min de filme. Não à toa, após o desafio dessa personagem, Cate decidiu encerrar a carreira de atriz. Desses, Nada de Novo no Front está disponível no Netflix.
Alertas feitos, é só escolher o nível de complexidade, preparar a pipoca e se juntar à Academia para palpitar sobre os preferidos no domingo.
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@fepandolfi
crédito da foto: Julio Cordeiro